Matosinhos: Risks, Opportunities and Resilience of a Coastal City

21 Giugno, 2023

Matosinhos: riscos, oportunidades e resiliência de uma cidade costeira

Matosinhos é, e sempre foi, uma das principais cidades portuárias do norte da península ibérica tendo nas últimas décadas, assumido uma importância cada vez maior. O Porto de Leixões tornou-se nas últimas décadas num dos 125 maiores portos do mundo [1].

Ao longo dos anos o crescimento da cidade influenciou o crescimento do Porto e o crescimento do Porto influenciou o crescimento de Matosinhos numa dinâmica única que, independentemente de todas as suas externalidades positivas e negativas, se tornou parte da identidade da própria cidade e do próprio porto.

Hoje Matosinhos enquanto mar de oportunidades, não é só o Porto de Leixões, há muitas outras dimensões que mantêm e robustecem a relação da cidade e da sua comunidade com o mar. Neste artigo vamos explorar esta ligação porto-cidade e perceber de que forma a mesma se interliga com a visão de diferentes áreas de atuação.

Matosinhos is, and always has been, one of the main port cities of the north of the Iberian Peninsula, and in the last few decades it has become increasingly important. Leixões’s Port has become in recent decades one of the 125 largest ports in the world [1].

Over the years the growth of the city has influenced the growth of the Port and the growth of the Port has influenced the growth of Matosinhos in a unique dynamic that, regardless of all its positive and negative externalities, has become part of the identity of the city and the port itself.

Today Matosinhos as a sea of opportunities is not only Leixões’s Port, there are also many other dimensions that maintain and enhance the relationship of the city and its community with the sea. In this article we will explore this port-city connection and understand how it interrelates with the vision of different areas.

Visão Urbanística e de Planeamento

Urban and Planning Vision

Ao contrário de muitas cidades portuárias em que o porto é uma infraestrutura separada e quase independente urbanisticamente, em Matosinhos o porto cresce para dentro da cidade, convivendo num equilíbrio exigente entre a atividade do porto e a malha urbana que o envolve quase na totalidade.

Unlike many port cities in which the port is a separate and almost urbanistically independent infrastructure, in Matosinhos the port grows into the city, coexisting in a challenging balance between the port’s activity and the urban mesh that surrounds it almost entirely.

Matosinhos procurou desde sempre desenvolver uma intervenção territorial equilibrada e harmoniosa, no quadro do ordenamento do território, do urbanismo e da paisagem. Na imagem é possível ver a Ponte Móvel de Leixões, quarta maior ponte basculante do mundo distinguida em 2009 com o Prémio para Portugal da European Steel Design Awards e o Mercado Municipal de Matosinhos, edifício classificado como de interesse público em 2013. (© Câmara Municipal de Matosinhos).

Matosinhos has always tried to develop a balanced and harmonious territorial intervention, within the framework of spatial planning, urban planning and landscape. In the image it is possible to see the Mobile Bridge of Leixões, the fourth largest bascule bridge in the world, distinguished in 2009 with the Prize for Portugal of the European Steel Design Awards and the Municipal Market of Matosinhos, a building classified as of public interest. (© Matosinhos City Hall).

Por outro lado, muitas cidades portuárias, por crescerem à volta do porto, assumem um aspeto claramente industrial, focado no transporte e logística impondo-se esta dinâmica como marca identitária da cidade e dificultando a afirmação de marcas alternativas.

Matosinhos, pela visão de cidade que tem sido desenvolvida nas últimas décadas, apostou desde cedo na conservação do património industrial, desenvolvendo a malha e o modelo urbano em parceria com alguns dos melhores e mais reconhecidos arquitetos do mundo. Esta aposta permite que ao dia de hoje, naqueles que foram no início do século os primeiros quarteirões planeados apenas para atividade industrial, se assista a um cruzamento surpreendente entre elementos industriais, armazéns, fábricas, chaminés e obras tão admiráveis como as marginais de Matosinhos e Leça da Palmeira, instalação Anémona/She Shanges, a Casa de Chá da Boa Nova, Piscina das Marés, Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, Mercado Municipal de Matosinhos, edifício dos Paços do concelho, entre muitos outros.

On the other hand, many port cities, by growing around the port, assume a clearly industrial aspect, focused on transport and logistics, making this dynamic an identity mark of the city and obstructing the affirmation of alternative brands.

Matosinhos, by the vision of a city that has been developed in recent decades, has invested early on, in the conservation of industrial heritage, developing the network and the urban model in partnership with some of the best and most recognized architects in the world. This bet allows that today, in what were at the beginning of the century the first blocks planned only for industrial activity, we witness a surprising cross between industrial elements, warehouses, factories, chimneys and admirable constructions such as the marginal Matosinhos and Leça da Palmeira, Anémona/She Shanges installation, the Boa Nova Tea House, Piscina das Marés, the Cruise Terminal, the Matosinhos Municipal Market, the Town Hall building, among many others.

Escultura “She Changes” (2011), vulgarmente conhecida por “Anémona”, concebida pela artista americana Janet Echelman. (© Câmara Municipal de Matosinhos).
“Casa de Chá da Boa Nova” (1963), projeto do arquitecto Álvaro Siza Vieira, classificada como Monumento Nacional em 2011. (© Câmara Municipal de Matosinhos).

She Changes”, locally known as “A Anémona”, is a public sculpture by the famous American artist Janet Echelman. (© Matosinhos CIty Hall).
“Boa Nova Tea House” (1963), project by architect Álvaro Siza Vieira, classified as a National Monument in 2011. (© Matosinhos City Hall).

“Piscina das Marés” (1966), de autoria do arquitecto Álvaro Siza Vieira, classificada como Monumento Nacional em 2011. (© Câmara Municipal de Matosinhos).
Terminal de Cruzeiros do Porto de Leixões, do arquitecto Luís Pedro Silva, e que acolhe o Terminal de Cruzeiros de Mar, o Parque de Ciência e Tecnologias do Mar da Universidade do Porto e o CIIMAR – Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha da Universidade do Porto. (© Câmara Municipal de Matosinhos).

“Piscina das Marés” (1966), designed by architect Álvaro Siza Vieira, classified as a National Monument in 2011. (© Matosinhos City Hall).
Cruise Terminal of the Leixões’s Port, designed by architect Luís Pedro Silva, which houses the Cruise Ship Terminal, the Park of Science and Technology of the Sea of the University of Porto and the CIIMAR – Interdisciplinary Center for Marine Research of the University of Porto. (© Matosinhos City Hall).

Mercado Municipal de Matosinhos, edifício de referência na arquitetura moderna, inaugurado em 1952 e classificado como Imóvel de Interesse Público em 2013. (© msubirats, 2020).
Passeio Atlântico da marginal de Matosinhos-Sul (2002), de autoria do Arqt.º Eduardo Souto de Moura. (© Câmara Municipal de Matosinhos).

Matosinhos Market, a reference building in modern architecture, opened on May 27, 1952 and was classified as Property of Public Interest in 2013. (© msubirats, 2020).
Atlantic Promenade of the Matosinhos-Sul waterfront (2002), designed by architect Eduardo Souto de Moura. (© Matosinhos City Hall).

Desde Nicolau Nasoni no século XVIII aos mais recentes Álvaro de Siza Vieira, arquiteto português mais premiado de sempre, nascido em Matosinhos, prémio Pritzker 1992 ou Eduardo Souto Moura igualmente prémio Pritzker 2011, prémio Wolf das artes 2013, ou Alcino Soutinho que pela marca que deixou é uma constante referência no quotidiano dos Matosinhenses, foram vários os mestres que transformaram a malha urbana de Matosinhos numa harmonia única, criando espaço para que a imagem desta cidade costeira se tenha vindo afirmar com grande força pela arquitetura, design e modernidade. A criação e instalação do Centro Português de Arquitetura naquele que foi por excelência um quarteirão industrial, a Real Vinícola, e que recebe o espólio de alguns dos melhores arquitetos do mundo, irá certamente inspirar uma nova geração.

From Nicolau Nasoni in the eighteenth century to the more recent Alvaro de Siza Vieira, the most awarded Portuguese architect ever, born in Matosinhos, winner of a  Pritzker Prize 1992 or Eduardo Souto Moura also Pritzker Prize winner in 2011 and Wolf of Arts Award 2013, or Alcino Soutinho who by the mark he left is a constant reference in the daily life of the people of Matosinhos, were several masters who transformed the urban mesh of Matosinhos into a unique harmony, creating space so that the image of this coastal city has been affirmed with great strength by architecture, design and modernity. The establishment and creation of the Portuguese Center of Architecture in what was by excellence an industrial quarter, the Real Vinícola, which receives the estate of some of the best architects in the world, will certainly inspire a new generation.

A escolha de Matosinhos para sede da Casa da Arquitectura – Centro Português de Arquitectura, e a sua abertura em 2017, veio reforçar a secular ligação de Matosinhos à arquitectura. (© Câmara Municipal de Matosinhos).

The choice of Matosinhos to host Casa da Arquitectura – Portuguese Center of Architecture, and its opening in 2017, reinforced Matosinhos’ secular connection to architecture. (© Matosinhos City Hall).

Se nos focarmos objetivamente na paisagem portuária, também aí é bem visível esta complementaridade de áreas e disciplinas. Na operação de movimentação de cargas, as barreiras que sustentam o material a granel, com forte presença e impacto no território, foram concebidas e desenhadas por um conceituado designer, acrescentando-lhes poesia e design, dotando a paisagem de grande originalidade.

Também a Escola Superior de Arte e Design, escola de Matosinhos, desenhou e implementou um projeto no gradeamento que envolve o próprio porto, a iniciativa “This wall is mine” e que, uma vez mais acrescentou carisma, modernidade e humanização a uma estrutura portuária.

If we focus objectively on the port landscape, this complementarity of areas and disciplines is also very visible there. In the cargo handling operation, the barriers that support the bulk material, with strong presence and impact on the territory, were conceived and designed by a renowned designer, adding poetry and design to them, endowing the landscape with great originality.

Also the School of Art and Design, a school in Matosinhos, designed and implemented a project on the railing that involved the port itself, the initiative “This wall is mine” and that, once again, added charisma, modernity, and humanization to a port structure.

Intervenções artísticas que transformam estruturas funcionais em diálogos quotidianos com a cidade. (respetivamente: © Câmara Municipal de Matosinhos; © ESAD Arte+Design. This Wall is Mine 2nd edition. Nuno Pereira, 2014).

Artistic interventions that transform functional structures into daily dialogues with the city. (respectively: © Matosinhos City Hall; © ESAD Arte+Design. This Wall is Mine 2nd edition. Nuno Pereira, 2014).

Visão Económica e do Turismo

Economic and Tourism Vision

O Porto de Leixões é, por si só, responsável por 6% do emprego em Portugal e 6% do PIB nacional, tendo influência direta sobre 11% do emprego e PIB da região norte. Serve de porta para diversas atividades económicas em Matosinhos tais como os mais de 340 mil contentores de mercadoria movimentados em 2022, as 20,4 mil toneladas de peixe transacionadas em 2021, a existência de toda a indústria conserveira da cidade que transforma parte deste peixe fresco em latas de conservas ou os mais de 500 restaurantes que confecionam o peixe e o vendem diretamente ao público local e turistas. A importância desta cultura e economia à volta do circuito do peixe é tão intrínseca e de tamanha notoriedade que alavancou a cidade enquanto região “the world’s best fish”, sendo este um slogan de Matosinhos reconhecido nacional e internacionalmente.

Leixões’s Port alone is responsible for 6% of employment in Portugal and 6% of national GDP, having direct influence over 11% of employment and GDP in the northern region. It serves as the gateway for various economic activities in Matosinhos such as the more than 340 thousand containers of cargo handled in 2022, the 20.4 thousand tons of fish transacted in 2021, the existence of the entire canning industry in the city that transforms part of this fresh fish into cans or the more than 500 restaurants that prepare fish and sell it directly to the local public and tourists. The importance of this culture and economy around the fish circuit is so intrinsic and of such notoriety that it has leveraged the city as “the world’s best fish” region, being this a slogan of Matosinhos recognized nationally and internationally.

Matosinhos é um ponto de passagem obrigatório para os peregrinos que escolhem rumar a Santiago de Compostela pelo litoral português. Percorrer a Praia de Matosinhos, contornar o Porto de Leixões e seguir viagem pelos cerca de 15km de agradáveis passadiços junto ao mar é uma proposta que permite aliar a experiência turística à peregrinação. (© Câmara Municipal de Matosinhos).

Matosinhos is a mandatory stop for pilgrims who choose to go to Santiago de Compostela by the Portuguese coast. Walking along Matosinhos Beach, going around Leixões’s Harbor and walking along 15km of pleasant walkways by the sea is a proposal that allows to combine the tourist experience with the peregrination. (© Matosinhos City Hall).

Se nos focarmos ainda no Porto e no seu reflexo direto no turismo, identificamos de imediato os mais de 108 mil passageiros de cruzeiro que chegaram em 2022 a Matosinhos através do Porto, numa verdadeira maré de novas oportunidades para o turismo de Matosinhos e da região.

Uma maré que apresenta um elevado potencial de cruzamento com a oferta turística local, nomeadamente com os Caminhos de Santiago que, em 2022, atrairam cerca de 22.000 peregrinos ao nosso território.

Um indicador interessante e que acreditamos estar relacionado com as idiossincrasias do território são os 18% de empresas exportadoras. É claro que seria expectável que Matosinhos, enquanto cidade portuária, fosse uma cidade exportadora, mas acreditamos que para além de ele ser reflexo de uma infraestrutura portuária moderna e eficiente, beneficia igualmente da criação de zonas empresariais especialmente desenhadas para empresas exportadoras. Por outro lado, fruto das ações de promoção da educação empresarial, dos programas de capacitação para empreendedores e do trabalho de qualificação implementado por inúmeros stakeholders este poderá ser um indicador com forte tendência para crescer.

Um segundo fator central é a abertura da cidade à inovação. Pelas suas características próprias, mas acima de tudo pelo perfil de parceiros que se foi instalando no território, como por exemplo o CEIIA, a UPTEC Mar, o CIMMAR ou os vários laboratórios colaborativos, Matosinhos tem vindo a tornar-se num inquestionável líder na tecnologia, sendo a primeira cidade em Portugal a ficar totalmente coberta pelo 5G e o primeiro local onde se implementou uma Zona Livre Tecnológica. O cluster da blue economy tem vindo a ganhar escala e a impor-se pela sua capacidade técnica e de inovação, constituindo-se como uma referência internacional, como ainda o ano passado pudemos constatar na Conferência Mundial dos Oceanos das Nações Unidas que arrancou com o seu primeiro side event diretamente do terminal de passageiros de Leixões. Atualmente decorrem dois potenciais projetos que bem refletem o peso de Matosinhos na área da economia azul, o Hub de Leixões e o Centro Internacional de Biotecnologia.

Outro fator a considerar é a presença do maior recinto de feiras e congressos em Portugal, com cerca de 60 mil m² de área coberta, que permite à cidade acolher vários dos mais importantes eventos corporativos. Todo o ecossistema já abordado, juntamente com esta infraestrutura, acrescentam vantagem competitiva à cidade e às empresas, refletindo-se a dinâmica da Exponor num volume de visitantes com impacto considerável na economia local, especialmente porque o turismo de negócios dinamiza períodos do ano com menor afluência de turistas.

Por último é indissociável a relação entre mar, pescas, cultura, peixe e economia do mar. Um dos elementos turísticos mais genuínos e interessantes assenta em projetos privados em parceria com a cidade e com o Turismo de Portugal, designadamente na constituição de um roteiro de turismo industrial. As três fábricas de conservas que fazem parte deste roteiro, proporcionam experiências ao visitante de diferente natureza, mas que prometem ser inesquecíveis, assim como a Casa da Cerveja do Super Bock Group ou o guindaste icónico que durante décadas marcou a paisagem da cidade, o Titan que pode agora, depois de reabilitado, ser visitado dentro do espaço portuário.

If we still focus on the Port and its direct reflection on tourism, we immediately identify the more than 108 thousand cruise passengers that arrived in 2022 to Matosinhos through the Port, in a true tide of new opportunities for the tourism of Matosinhos and the region.

A tide that has a high potential of intersection with the local tourism offer, particularly with the Ways of St. James that, in 2022, attracted about 22,000 pilgrims to our territory.

An interesting indicator that we believe is related to the characteristics of the territory is the 18% of exporting companies. Of course it would be expected that Matosinhos, as a port city, would be an exporting city, but we believe that besides being a reflection of a modern and efficient port infrastructure, it also benefits from the creation of business zones especially designed for exporting companies. On the other hand, as a result of the actions to promote business education, the training programs for entrepreneurs, and the qualification work implemented by numerous stakeholders, this could be an indicator with a strong tendency to grow.

A second central factor is the city’s openness to innovation. Due to its own characteristics, but above all due to the profile of partners that has been installed in the territory, such as CEIIA, UPTEC Mar, CIMMAR or the various collaborative laboratories, Matosinhos has become an unquestionable leader in technology, being the first city in Portugal to be fully covered by 5G and the first place where a Technological Free Zone was implemented. The blue economy cluster has been gaining scale and imposing itself by its technical and innovation capacity, constituting itself as an international reference, as we could see only last year at the United Nations World Ocean Conference, which started with its first side event directly from the Leixões passenger terminal. Currently, two potential projects are underway that well reflect the weight of Matosinhos in the area of blue economy, the Hub of Leixões and the International Center for Biotechnology.

Another factor to consider is the presence of the largest fair and congress center in Portugal, with about 60 thousand m² of covered area, which allows the city to host several of the most important corporate events. All the ecosystem already mentioned, along with this infrastructure, adds competitive advantage to the city and to the companies. Exponor’s dynamic is reflected in a volume of visitors with considerable impact on the local economy, especially because business tourism boosts periods of the year with less influx of tourists.

Finally, the relationship between sea, fishing, culture, fish and sea economy is inseparable. One of the most genuine and interesting touristic elements is based on private projects in partnership with the city and the Tourism of Portugal, namely the constitution of an industrial tourism route. The three canneries that are part of this route, provide different experiences to the visitor, but promise to be unforgettable, as well as the House of Beer of the Super Bock Group or the iconic crane that for decades marked the landscape of the city, the Titan that can now, after rehabilitation, be visited within the port area.

Visão da Segurança e Resiliência

Vision of Security and Resilience

Um dos principais desafios que se coloca às cidades que possuem portos marítimos é a forma de coordenar toda a atividade portuária com a segurança da própria cidade e dos seus cidadãos.

A gestão de milhares de navios, a carga, descarga e circulação de mercadorias, a saída de pescadores, a logística de transportes que diariamente entra na cidade, a atividade de armazenamento de combustível, entre tantas outras atividades potencialmente perigosas, aliadas ao risco natural, tornam as cidades portuárias particularmente propensas ao risco.

Cidades como Matosinhos aceitaram esse risco e incorporam nos seus próprios mecanismos formas de o mitigar que, apesar de nem sempre parecerem provenientes da relação com o porto, estão intimamente ligados ao facto da atividade portuaria existir e de historicamente a cidade ter tido necessidade de mitigar os riscos a ela associados.

Um emblemático exemplo desta vocação da cidade para a prevenção de riscos e priorização da segurança das pessoas, é o Sistema de Salvamento Balnear (SSB) de Matosinhos, criado pela Câmara Municipal de Matosinhos em 2008, tendo sido o primeiro e um dos únicos ao dia de hoje no país, a funcionar durante todos os dias do ano. Desde a sua criação foram salvas 415 pessoas, foram feitas milhares de sensibilizações e várias ações de prevenção. Garantir as melhores condições de segurança a quem utiliza as praias do concelho, nomeadamente naquelas onde existe a presença regular de surfistas, desportistas e turistas, que elegem as nossas praias para a prática desportiva ou lazer durante todo o ano, foram os objetivos que motivaram a criação deste sistema, mais focado nas praias urbanas mas que se estende ao longo de toda a costa com serviços de patrulha e vigilância em pontos chave. Atualmente o salvamento balnear está a testar a sua intervenção no Corredor do Rio Leça. Fruto do plano de formação deste serviço, a equipa do SSB está agora habilitada para o resgate em rio/águas bravas em articulação com a equipa de guarda-rios que, diariamente, percorre e monitoriza o rio Leça.

Este foco na prevenção e na capacitação direta de agentes da comunidade para enfrentar e superar os riscos está tão presente no ADN de Matosinhos que a cidade foi reconhecida como o 1st Resilience Hub das Nações Unidas em Portugal, o que irá contribuir para um ainda maior envolvimento da população no combate aos riscos futuros. Esta distinção surge fruto do trabalho que temos vindo a desenvolver nos 4 eixos da gestão de risco, a mitigação através do trabalho de sensibilização e consciencialização da população e da integração nos documentos de gestão estratégicos do município de medidas e condições que permitam mitigar riscos e impactos de riscos do território, o planeamento através do desenvolvimento de instrumentos de planeamento de dimensões macro e micro e integrador das várias valências de atuação municipal, a resposta através do envolvimentos e articulação entre os diferentes agentes de proteção civil e do serviço municipal de proteção civil no apoio às populações e a quem passa pela cidade e na recuperação através da capacitação dos agentes sociais para o apoio às populações afetadas.

Este reconhecimento aporta ainda enorme responsabilidade para o município, pois coloca-nos num patamar de apoio e coordenação da implementação da resiliência em Portugal e no Mundo. Neste sentido, Matosinhos está a desenvolver, com o apoio de diversas entidades internacionais, uma estratégia de apoio às cidades de língua oficial portuguesa espalhadas pelo mundo na construção da sua própria resiliência, bem como na criação de uma rede de cidades costeiras mundial para trabalhar os riscos climáticos e os desafios que o oceano aporta às cidades.

Um outro exemplo da dinâmica integrada da cidade, foi a forma como Matosinhos reagiu aos efeitos provocados pelo COVID-19. No nosso contexto do tecido económico local, a paragem abrupta de atividade revelou-se particularmente crítica, uma vez que ele está muito assente na hotelaria e restauração, obrigada a parar durante longos meses. Graças à tradição instaurada de gestão de risco e resiliência, o município montou um mecanismo de mitigação que passou pelo sistema municipal de delivery de refeições utilizando a rede de táxis (mais de 15.000 refeições entregues com um impacto económico de 600 mil euros), distribuição de embalagens (mais de 50.000 distribuídas), o desenvolvimento de um fundo monetário de emergência municipal para apoio às empresas do conselho (mais de 250 mil euros distribuídos na restauração e mais de 650 mil euros na várias áreas da economia) e produção/distribuição em casa de cada munícipe de 3 máscaras de proteção individual. A cidade, muito na sequência da sua tradição de gestão de riscos e resiliência, esteve à altura do desafio, instituições e comunidade responderam de forma concertada e eficaz.

Hoje em dia, estamos já a articular esforços para preparar e combater o desafio seguinte. Antecipando os objetivos nacionais e europeus, Matosinhos enquanto comunidade, assumiu o compromisso de até 2030 se tornar neutra em Carbono, prevenindo as imensas consequências que o efeito de estufa e a subida do nível da água do mar poderão ter na sua orla costeira.

One of the main challenges facing cities with seaports is how to coordinate all port activity keeping the security of the city itself and its citizens.

The management of thousands of ships, the loading, unloading and circulation of cargo, the departure of fishermen, the transport logistics that daily enter the city, the fuel storage activity, among many other potentially dangerous activities, combined with the natural risk, make port cities particularly prone to risk.

Cities like Matosinhos have accepted this risk and have incorporated into their own mechanisms ways of alleviating it, which, despite not always seeming to come from the relationship with the port, are closely linked to the fact that the port activity exists and that historically the city has needed to mitigate the risks associated with it.

Um emblemático exemplo desta vocação da cidade para a prevenção de riscos e priorização da segurança das pessoas, é o Sistema de Salvamento Balnear (SSB) de Matosinhos, criado pela Câmara Municipal de Matosinhos em 2008, tendo sido o primeiro e um dos únicos ao dia de hoje no país, a funcionar durante todos os dias do ano. Desde a sua criação foram salvas 415 pessoas, foram feitas milhares de sensibilizações e várias ações de prevenção. Garantir as melhores condições de segurança a quem utiliza as praias do concelho, nomeadamente naquelas onde existe a presença regular de surfistas, desportistas e turistas, que elegem as nossas praias para a prática desportiva ou lazer durante todo o ano, foram os objetivos que motivaram a criação deste sistema, mais focado nas praias urbanas mas que se estende ao longo de toda a costa com serviços de patrulha e vigilância em pontos chave. Atualmente o salvamento balnear está a testar a sua intervenção no Corredor do Rio Leça. Fruto do plano de formação deste serviço, a equipa do SSB está agora habilitada para o resgate em rio/águas bravas em articulação com a equipa de guarda-rios que, diariamente, percorre e monitoriza o rio Leça.

This focus on prevention and the direct empowerment of community agents to face and overcome risks is so present in Matosinhos’ DNA that the city was recognized as the 1st United Nations Resilience Hub in Portugal, which will contribute to an even greater involvement of the population in fighting future risks. This distinction is the result of the work that we have been developing in the 4 pillars of risk management, mitigation through the work of sensitization and awareness of the population and the integration in the municipality’s strategic management documents of measures and conditions that allow for the mitigation of risks and impacts of risks in the territory planning through the development of planning instruments of macro and micro dimensions and integrating the various aspects of municipal action, the response through the involvement and articulation between the different agents of civil protection and the municipal civil protection service in supporting the population and those who pass through the city, and recovery through the training of social agents to support affected populations.

This recognition also brings enormous responsibility to the municipality, as it places us at a level of support and coordination of the implementation of resilience in Portugal and the world. This recognition also brings enormous responsibility to the municipality, as it places us at a level of support and coordination of the implementation of resilience in Portugal and the world. In this sense, Matosinhos is developing, with the support of several international entities, a strategy to support Portuguese-speaking cities spread around the world in building their own resilience, as well as in the creation of a worldwide network of coastal cities to work on climate risks and the challenges that the ocean brings to cities.

An other example of the integrated dynamics of the city, was the way Matosinhos reacted to the effects caused by COVID-19. In our context of local economic fabric, the abrupt stoppage of activity proved to be particularly critical, since it is very much based on the hotel and restaurant industry, forced to stop for long months. Thanks to the established tradition of risk management and resilience, the municipality set up a mitigation mechanism that included a municipal meal delivery system using the cab network (more than 15,000 meals delivered with an economic impact of 600,000 euros), distribution of packages (more than 50,000 distributed), the development of a municipal emergency monetary fund to support the council’s companies (more than 250,000 euros distributed in the catering sector and more than 650,000 euros in various areas of the economy), and the production/distribution of 3 individual protection masks at each resident’s home. The city, much in the wake of its tradition of risk management and resilience, rose to the challenge, institutions and community responded in a concerted and effective manner.

Today, we are already articulating efforts to prepare and fight the next challenge. Anticipating the national and European objectives, Matosinhos as a community has made the commitment to become Carbon Neutral by 2030, preventing the immense consequences that the greenhouse effect and the rise in sea level may have on its coastline.


IMAGEM INICIAL | Em Matosinhos o porto estende-se cidade adentro, convivendo harmoniosamente com a malha urbana que se desenvolve nas “margens” do rio Leça. (© Câmara Municipal de Matosinhos).

HEAD IMAGE | In Matosinhos the port extends into the city, harmoniously coexisting with the urban network that develops on both sides of the Leça river. (© Matosinhos City Hall).


NOTA

NOTE

[1] Porto de Leixões entre os 125 maiores do mundo, Lusa – publicado por Luís Manuel Cabral, 27 Agosto 2013, disponível em https://www.dn.pt/portugal/porto-de-leixoes-entre-os-125-maiores-do-mundo-3389397.html/.

[1] Port of Leixões among the 125 largest in the world, Lusa – published by Luís Manuel Cabral, 27 August 2013, available at https://www.dn.pt/portugal/porto-de-leixoes-entre-os-125-maiores-do-mundo-3389397.html/.



Article reference for citation:

PONTES, Marta. “Matosinhos: Risks, Opportunities and Resilience of a Coastal City”. PORTUS | Port-city relationship and Urban Waterfront Redevelopment, 45 (June 2023). RETE Publisher, Venice. ISSN 2282-5789.
URL: https://portusonline.org/matosinhos-risks-opportunities-and-resilience-of-a-coastal-city/

PONTES, Marta. “Matosinhos: riscos, oportunidades e resiliência de uma cidade costeira”.PORTUS | Port-city relationship and Urban Waterfront Redevelopment, 45 (June 2023). RETE Publisher, Venice. ISSN 2282-5789.
URL: https://portusonline.org/matosinhos-risks-opportunities-and-resilience-of-a-coastal-city/

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