╔
O Porto de Santos na visão da Associação Comercial de Santos
Entrevista com Mauro SAMMARCO
Gostaria de agradecer especialmente ao Sr. Mauro Sammarco, Presidente da Câmara de Comércio de Santos (ACS), pela sua disponibilidade e gentileza em conduzir esta entrevista para a PORTUS sobre a importância do Porto de Santos para a economia nacional e internacional do Brasil.
O Sr. Mauro Sammarco é Sócio-Gerente da BRAZIL P&I, correspondente do P&I Club no Brasil. Com mais de 25 anos de experiência na indústria marítima e de navegação, é Presidente da Câmara de Comércio de Santos e Presidente do Conselho de Administração do Instituto Brasileiro de Infraestrutura, que presta apoio técnico à Frente Parlamentar de Portos e Aeroportos (FPPA) do Congresso Nacional em questões críticas relacionadas aos setores portuário, aeroportuário e de infraestrutura. Também atua como Conselheiro da Sociedade de Amigos da Marinha do Brasil e é destinatário da Medalha Bras Cubas, concedida pela Câmara Municipal de Santos.
Sua posição como Presidente da Associação Comercial de Santos, entidade fundada em 22 de dezembro de 1870, lhe confere um conhecimento privilegiado sobre a situação atual da cidade e do porto. Ele é, portanto, uma pessoa particularmente qualificada para avaliar o desenvolvimento e impacto desta cidade portuária.
ENTREVISTADOR | Adilson Luiz GONÇALVES, Engenheiro Mestre pela Secretaria de Assuntos Portuários e Emprego da Prefeitura de Santos
ENTREVISTADO | Mauro SAMMARCO, Presidente da Associação Comercial de Santos
A Associação Comercial de Santos – ACS é uma entidade centenária, que congrega empresas e empresários, muitos dos quais têm atuação no Porto de Santos. Conte um pouco da história da ACS e das atividades que desempenha, e como elas se relacionam com o Porto de Santos.
A ACS é uma entidade centenária, que congrega empresas e empresários, muitos dos quais têm atuação no Porto de Santos. Conte um pouco da história da ACS e das atividades que desempenha, e como elas se relacionam com o Porto de Santos.
Fundada em 22 de dezembro de 1870, a Associação Comercial de Santos surgiu do sonho de um grupo de empreendedores do setor do café de criar uma entidade para defender os interesses do comércio e da indústria. É a mais antiga associação comercial do Estado de São Paulo e a quinta do Brasil.

Logomarca e sede da Associação Comercial de Santos – ACS. (Fonte: ACS).
Para se ter uma ideia da sua dimensão e importância, foi a princesa regente Isabel, representando o pai, o imperador Dom Pedro II, quem assinou a autorização para o funcionamento da ACS em 29 de março de 1874. Um ano depois, o próprio imperador e a imperatriz Teresa Cristina visitaram a ACS para reiterar a autorização e abriram o “Livro de Ouro”, registrando a visita de personalidades ilustres à organização.
A ACS vem, ao longo dos anos, protagonizando as discussões das principais demandas e no desenvolvimento econômico e social da região. De acordo com o decreto vigente, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas, a ACS é estabelecida como órgão técnico e consultivo, responsável por estudos voltados ao desenvolvimento dos interesses econômicos e profissionais do Governo Federal.
Estruturada em Câmaras Setoriais, que reúnem empresas e entidades renomadas das mais diversas e expressivas atividades econômicas, a ACS presta numerosos serviços ao seu quadro associativo e é protagonista nas principais ações voltadas ao desenvolvimento econômico e social da região. Com profundas ligações e conexões com o Porto de Santos e com os usuários das diversas cadeias de produtos que dependem do complexo portuário santista para a movimentação de suas cargas.
A instituição é uma interlocutora ativa do setor empresarial e portuário, garantindo que os interesses da cidade e do Porto de Santos estejam representados nas discussões estratégicas de âmbito nacional.
O equilíbrio na relação porto-cidade é outro ponto de grande atenção da ACS, visto a importância mútua que exercem e os impactos que geram.
Com o foco em sustentabilidade e inovação, a ACS se consolida como uma ponte essencial entre o setor portuário e os desafios contemporâneos, contribuindo para posicionar o Porto de Santos como referência internacional em boas práticas e eficiência logística.
Quais são as principais demandas do Porto de Santos, na visão da ACS, para que esse complexo portuário amplie sua participação no comércio internacional?
Sabemos da necessidade da expansão do Porto de Santos para garantir sua competitividade e eficiência. Neste sentido, vários novos empreendimentos vão colaborar com esse crescimento, tais como o leilão do terminal TECON Santos 10, estruturado para ser o maior terminal do Porto de Santos, essencial para atender à demanda de movimentação e armazenagem de contêineres e carga geral no complexo portuário; a transferência do terminal de cruzeiros para a região do Valongo, como grande indutor da revitalização do Centro Histórico de Santos e importante ferramenta de fomento ao turismo; o túnel Santos/Guarujá, ligando as duas margens do porto; o aeroporto do Guarujá, permitindo o acesso direto as principais capitais do país; uma terceira ligação rodoviário entre a Baixada Santista e o Planalto, onde se localiza a capital do Estado e varias outras obras de ampliação da infraestrutura que serve o complexo portuário santista.
Alguns projetos em andamento no Porto de Santos. (Fonte: Google Earth/CONCAIS/Governo de São Paulo; adaptado pelo Autor).

Os investimentos previstos para o terminal de contêineres totalizam R$ 5,6 bilhões, ao longo de 25 anos, abrangendo tanto intervenções na área arrendada quanto em áreas comuns do porto organizado, incluindo dragagens da área de manobra e dos berços de atracação do novo terminal. Esses recursos podem viabilizar um crescimento de 50% na capacidade do porto.
A ACS acompanha e participa das discussões dos projetos e implantação dessas questões, dando a sua voz às demandas do setor e buscando contribuir com o crescimento do Porto de Santos, que é o nosso principal pilar econômico, além de gerador de empregos e renda para a comunidade santista.
O Porto de Santos exporta majoritariamente commodities. Como agregar valor e tecnologia às exportações desse complexo portuário?
O Porto de Santos, que é o maior complexo portuário da América Latina, deve ter compromisso com a inovação, sustentabilidade e governança. Estes temas são fundamentais para garantir a sua competitividade no cenário global e assegurar que ele continue liderando o comércio exterior brasileiro. Estar inserido neste diálogo com as principais lideranças do setor é essencial para alinharmos nossas ações às melhores práticas e contribuirmos de forma decisiva para o desenvolvimento do setor aquaviário e da economia nacional.
No último ano, o Porto de Santos movimentou cerca de 180 milhões de toneladas, sendo que quase ¾ desse volume se referem a exportações, particularmente de commodities ligadas ao agronegócio brasileiro, como soja, milho, açúcar, celulose, suco de laranja, café, algodão, carnes bovina, suína e de aves, entre outras. Os produtos primários, não acabados, compõem a grande pauta das nossas exportações. Líquidos a granel, com destaque para os derivados de petróleo, estão entre aqueles exportados através do complexo portuário santista.
O Porto de Santos é administrado pela Autoridade Portuária de Santos, vinculada ao Governo Federal, mas todas as operações do porto são realizadas por empresas privadas, que, via de regra, utilizam tecnologias avançadas, comparáveis às dos melhores portos do mundo.
No entanto, não dispomos de áreas, e tampouco de atividades, que, conectadas ao porto, possam agregar valor aos produtos que por aqui transitam. Há um esforço para a implantação de uma Zona de Processamento das Exportações, isto é, uma área geográfica onde as mercadorias podem ser importadas, armazenadas, manuseadas, fabricadas ou reconfiguradas e reexportadas sob regulamentação aduaneira específica e geralmente não sujeitas a direitos aduaneiros. Não há dúvida de que essa meta, da mais alta relevância, conta com o nosso apoio.
A Associação Comercial de Santos integra e participa ativamente do Instituto Brasileiro de Infraestrutura – IBI. (Fonte: ACS).

Por outro lado, a nossa região conta com um Parque Tecnológico, que, aliado a outros parceiros, poderia ser um grande indutor na construção de um Port Community System (PCS), plataforma eletrônica que venha a reunir e integrar as informações e sistemas dos envolvidos com o comércio marítimo, tais como importadores, exportadores, portos, órgãos fiscalizadores, agentes marítimos, armadores, operador e terminais portuários, Autoridade Portuária, entre outros. Com essa ferramenta, teríamos a integração de dados em um software centralizado (seja público ou privado), o rastreamento de alta qualidade, que permite a localização das cargas no porto, além da gestão de todos os meios de transporte, o que certamente permitiria uma redução no tempo e no custo das operações e melhoraria a eficiência e competitividade do nosso complexo portuário.
Qual é a sua projeção para o futuro da cidade e Porto de Santos, considerando o cenário mundial, conceitos como ESG, ODS e inovação tecnológica?
O futuro está centrado na promoção e difusão de uma cultura voltada para a inovação, a formação de redes de conexão e a adoção de práticas sustentáveis. As ações dos governos, da iniciativa privada e da sociedade em geral devem estar alinhadas com princípios socioambientais, econômicos e éticos de governança e transparência. Isso vai garantir que as decisões estratégicas e atividades operacionais estejam em sintonia com os objetivos do desenvolvimento sustentável e com as boas práticas.
A Associação Comercial de Santos tem sido um fórum privilegiado de discussões sobre desenvolvimento sustentado e inovação tecnológica. (Fonte: Santa Portal).

Por outro lado, vivemos a era da inovação, sem a qual não haverá competitividade no mercado e crescimento econômico e social. O desafio está lançado: harmonizar todos esses conceitos para a construção de uma cidade com mais qualidade de vida e melhores oportunidades para todos e um porto avançado e competitivo no cenário mundial.
O Porto de Santos enfrenta desafios críticos de infraestrutura em paralelo às questões de mobilidade urbana dentro dos limites do Município e na ligação terrestre da Baixada Santista com o planalto paulista, que estão demandando soluções de longo, médio e curto prazo.
É imprescindível unir a todos esses componentes os investimentos em educação e ciência, que são a base para toda a transformação social e o desenvolvimento econômico que se espera para o nosso País.
IMAGEM INICIAL | Edifício-sede da Câmara de Comércio, no Centro Histórico de Santos. (Fonte: SOPESP).