Nascida do seu porto de mar e rio, a cidade do Porto é, antes de mais, uma cidade portuária. Essa matriz marítima, económica e social está na sua marca genética mais profunda. A cidade, porém, é hoje muito mais complexa e muito mais completa.
Vista Aérea do Porto.
Enquanto infra-estrutura essencial temos de acrescentar ao seu porto um moderno aeroporto, um nó ferroviário e uma importante encruzilhada de auto-estradas. A matriz de vias de comunicação do Porto completa-se ainda com a via navegável do Douro, com gabarito europeu, ao longo de cerca de 220 Km desde o mar até à fronteira espanhola, subindo as eclusas nos escalões de Crestuma, Carrapatelo, Régua, Valeira e Pocinho.
Estrutura vária do Grande Porto.
Neste quadro de redes essenciais temos uma cidade com escala metropolitana, abrangendo uma dúzia e meia de municípios e reunindo uma população superior a 2,2 milhões de habitantes.
O porto do Douro em princípios do séc. XX.
O Porto metropolitano é uma cidade policêntrica, assente sobretudo nos concelhos do litoral – Porto, Matosinhos e Vila Nova de Gaia, mas estendendo-se por outros municípios do litoral e do interior, desde Espinho até Vila do Conde e Póvoa de Varzim, incluindo ainda a Maia, Valongo, Gondomar e Arouca.
Mas, para além de cidade portuária, o Porto é também uma importante cidade Universitária que acolhe muitas dezenas de milhares de estudantes em diversas instituições de ensino superior de que vale a pena destacar a Universidade do Porto, a Universidade Católica, a Universidade Fernando Pessoa, a Escola Superior Artística do Porto, a Portucalense, a Lusíada e a Lusófona e cinco Institutos Superiores.
Não só aqui acorrem estudantes portugueses de todo o país como, também, milhares de estudantes e investigadores de muitos outros países, que só na Universidade do Porto são mais de 3700.
Vista aérea do Porto de Leixões.
O quadro social do Porto, tece-se entre uma vasta base empregada na indústria e no comércio, uma larga camada nos serviços e uma significativa comunidade que vive do mar. As actividades relacionadas com o turismo, de tradição recente, têm vindo a crescer e robustecer-se nos últimos anos, com expressão significativa na hotelaria, na restauração, nos percursos fluviais, nos cruzeiros atlânticos e em grande número de actividades lúdicas e culturais.
Caves de Vinho do Porto.
O Porto é também uma cidade de cultura com forte dinâmica nas artes plásticas, na música e nas artes do palco, a par de uma cidade de ciência que se exprime na investigação em áreas como a saúde, as engenharias a arquitectura e as informáticas.
Vemos assim como o Porto se tem diversificado e enriquecido.
Desde sempre o Porto foi uma cidade de relação, aberta ao mundo, ao comércio e às ideias, no centro da globalização desde que Portugal unificou o globo com a ligação do Oriente e do Ocidente e com a navegação planetária através de todos os oceanos.
Pilar da Ponte Pênsil e tabuleiro inferior da Ponte D. Luis I.
Mas o Porto não é só uma cidade do presente e do futuro, aberta, virada para o progresso e para a fusão com outros povos. É também uma cidade histórica, rica de monumentos e de uma urbanidade construída à custa de muitos séculos de acumulação de ruas e quarteirões, de bairros, de praças e jardins que contam histórias.
Torre dos Clérigos.
Sobre um conjunto de territórios diversificados, a cidade foi-se tecendo nas duas margens da boca do Douro em colinas e escarpas, em margens de rio e de mar, em bacias de ribeiros que hoje não se veem, mas marcaram a topografia das nossas ruas inclinadas. O Porto não é uma cidade plana, não é uma cidade monótona, não é uma cidade simplificada. Daí lhe vem grande parte do seu encanto.
Estamos, de facto, perante uma cidade cheia de surpresas, cheia de percursos diversos e de panorâmicas diferentes. Uma cidade assim nunca se esgota e nunca cansa!
A par do seu Centro Histórico, reconhecido pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade, o Porto foi somando um modernismo e uma contemporaneidade que lhe acrescentam o valor, a técnica e a estética de cada época.
Testemunhos da densidade da história são a Sé, os Clérigos, S. Francisco, o Palácio da Bolsa, a Casa do Infante. Entre muitas dezenas de pontos obrigatórios, entre os passeios no rio e os manjares na Ribeira, estes monumentos descrevem o percurso da cidade no tempo, desde o castro celta, pré-histórico, aos palácios romanos, desde o muro velho (românico) até á muralha gótica (fernandina), desde os conventos e mosteiros do renascimento até ao barroco, desde o clássico do século XVIII até ao ecletismo afrancesado do século XIX, e, sobre todas estas camadas, o presente, a modernidade e a contemporaneidade de uma cidade que se recusa a parar.
Ponte D. Luis I.
Sente-se também aqui um Porto de futuro e de sonhos, um Porto de músicos, de criativos, de estudantes, investigadores e inventores. Encontram-se na rua, na Lello, no Hard-Club, no Palácio das Artes, no Piolho, nos Maus Hábitos! Há um Porto das galerias de arte em Miguel Bombarda com animação e festa e um Porto de eventos de toda a ordem na Alfândega, no Rosa Mota, na Bolsa.
Sente-se um Porto popular no Bolhão, no Coliseu e no Dragão e um Porto requintado no Magestic, no São João, na Casa da Música ou em Serralves.
Há um Porto de rio e um Porto de mar, desde o palácio do Freixo á Foz do Douro e daqui até ao Castelo do Queijo, com todas as idades em percurso, a pescar e a passear, de bicicleta ou em patins, acompanhando o carro eléctrico, histórico, arejado e alegre, sempre a olhar a água.
O Douro, o Porto e Gaia vistos das caves Graham’s.
O Douro, correndo entre margens escarpadas, ainda “Canyon” já perto da foz, só foi transposto por pontes a partir da utilização do aço. Nem a engenharia romana, nem toda a idade média ou mesmo a modernidade do século XVIII, conseguiram vencer o amplo vão entre o Porto Gaia até ao aparecimento de Eiffel que construiu, em 1876, com a arquitectura do ferro, o arco, elegantíssimo, do comboio na ponte D. Maria Pia.
Pouco depois, sobre o final do século XIX Téophile Seyrig ultrapassa a proeza de Eiffel fazendo a ponte de dois níveis que emoldura, de forma sublime, as margens da Ribeiras do Porto e Gaia, com a Ponte D. Luís I, rematada no Porto pela acrópole da Sé e do lado de Gaia pelo Convento da Serra do Pilar.
Essa modernidade do aço está também em emblemáticos edifícios como o Palácio da Bolsa, a Estação de São Bento ou o Mercado Ferreira Borges.
Regata de barcos rabelos no dia de S. João.
Mas a contemporaneidade do Porto vem até à casa da música e outras obras arquitectónicas que começam a marcar o Porto do século XXI. Estamos, de facto perante uma cidade viva, que sendo histórica e patrimonial não se deixou fossilizar e, constantemente, se acrescenta de novas dinâmicas.
Urbanisticamente a cidade do Porto foi-se tecendo a partir do Porto do Douro, verdadeiro embrião piscatório e comercial da cidade romana e medieval.
Local geoestratégico das rotas entre o Norte e o Sul da Europa, ponto de refúgio e de comércio entre os mares do Norte e o Mediterrâneo, desde a antiguidade que o Porto encontrou justificação no mar e no rio para o crescimento do seu assentamento urbano, e assim, cresceu.
O século XVIII, século de luzes e de novos mundos trouxe ao Porto a expansão fulgurante do comércio dos vinhos do Douro, e é sobretudo com a exportação de Vinho do Porto para as Ilhas Britânicas que a actividade portuária cresce, os cais se ampliam, as caves se apinham nas encostas de Gaia e a abertura difícil da barra do Douro, durante as longas tempestades de inverno, começa a levantar problemas.
É o fim do século XIX que assiste aos primeiros esforços para encontrar um bom local e um projecto para um porto de mar suficientemente amplo, defendido e próximo das infra-estruturas de terra e da mão-de-obra da cidade.
Assim nasceu Leixões e assim cresceu Matosinhos e a área metropolitana do Porto se alargou e consolidou.
Planta do Porto de Leixões.
O Vinho do Porto, cultivado a mais de uma centena de quilómetros é produzido nos socalcos das encostas do Douro e seus afluentes sob um microclima muito próprio, defendido dos ventos atlânticos por cordilheiras montanhosas que deixavam apenas o vale do Douro como caminho para o escoamento dos seus produtos.
Até ao princípio do século XX o barco de rio (o típico barco rabelo) era o único meio de transporte dos vinhos desde as suas quintas de origem até às caves onde envelhece para ser exportado. Surge então o comboio, hoje também já histórico, percorrendo a margem do mesmo Douro até que o camião veio derrotar esses meios de transporte.
Barcos Rabelos no Douro, frente à Ribeira.
O Porto é, por isso uma cidade de vinhos, uma cidade onde se guardam e envelhecem os melhores néctares do mundo, que para além dos vinhos do Porto, centraliza uma região de vinhos verdes e outras apelações de vinhos de mesa.
Cidade de cultura e ciência, cidade de vinhos, o Porto é ainda uma cidade de gastronomia. Herdeira dos saberes tradicionais das regiões do Norte e Centro do país, e das influências externas que as comunidades diversas aqui implantaram, a cidade oferece uma enorme variedade de sabores em torno das carnes, dos peixes e dos doces.
O Porto não é uma cidade que possa ser percebida em fotografias, nem contada em crónicas… à preciso cá vir e sentir os cheiros e paladares que acompanham os nosso vinhos.
Um cálice de porto.
Não nos referimos apenas à culinária tradicional mas a toda a experiencia que hoje se faz pela mão de “chefs” criativos que têm o privilégio de aceder aos produtos frescos mais saborosos da dieta mediterrânica e dos frutos do atlântico.
Cidade extensa e plural, o Porto distingue-se por ser obra de terra, de mar e de rio. Não faltam ao Porto as praias da Foz, de Gaia e de Matosinhos e as frentes de rio com os seus percursos panorâmicos excepcionais semeados de esplanadas atractivas e confortáveis.
Mas “entrando” no território encontramos excelentes parques e jardins. Serralves é um “oásis” de equilíbrio e ambientes diversificados no interior do tecido urbano. Herança de um jardim privado de elevado bom gosto é hoje um dos locais onde a cidade encontra os seus momentos mais tranquilos de contacto com a natureza e com a arte.
O Parque Ocidental da cidade, de escala metropolitana é uma excelente área verde na continuidade da praia, onde é possível o recato e a protecção contra os ventos que por vezes sopram rijos do mar.
Há que referir jardins históricos, mais ou menos formais como os do “Palácio de Cristal”, o Parque de S. Roque, a quinta do Covelo. Em Matosinhos são notáveis as quintas de Santiago e da Conceição e em Gaia o indispensável Parque Biológico.
Vale a pena referir que um dos indicadores de qualidade ambiental da Área Metropolitana do Porto é a variedade da sua avifauna que pode ser observada em muitas destas áreas verdes e, especialmente no estuário do Douro. Espécies residentes e migratórias escolhem o Porto porque aqui encontram água de qualidade e, com isso, abundância de alimento e de sítios acolhedores para nidificar. Garças, patos e gaivotas, entre muitas outras aves convivem com a cidade e com os portuenses no seu dia-a-dia.
Com uma rede de metro que liga os principais polos do Porto e das cidades limítrofes, a deslocação na cidade é fácil e rápida. Mesmo na circulação de superfície, em transporte público ou particular, o portuense não se depara, geralmente, com demorados conflitos de tráfego. A estrutura viária modernizada e os sistemas de gestão do trânsito permitem, no geral uma circulação descontraída, invulgar em metrópoles com esta dimensão e com tanta dinâmica.
Aparentemente sendo uma cidade de urbanismo muito espontâneo, com ruas algo tortuosas e inclinadas, com grandes variações na imagem urbana desde os casarios antigos até ao blocos modernos ou aos conjuntos de vivendas residenciais em ruas sossegadas, o Porto é de facto uma cidade muito planeada, onde o urbanismo desenhado nos séculos XVIII, XIX e XX, introduziu grandes estruturas como a avenida da Boavista, os Aliados ou as principais ruas da Baixa, entre muitos outros exemplos que poderíamos citar.
É este somatório de cidade espontânea, algo anárquica, com cidade planeada, muito desenhada, que produz um ambiente singular e variado a cada unidade urbana e assim temos a Ribeira diferente da Foz e a Baixa diferente da Sé, e Santa Catarina diferente da Boavista, Gaia diferente de Leça ou Matosinhos diferente da Maia, num grande leque de soluções estilísticas e estéticas, de muitas épocas, que construíram esta verdadeira obra de arte urbana.
O Porto, por tudo isto é uma cidade boa para visitar e conhecer, mas é sobretudo, uma cidade boa para viver.
O Porto e o Douro.
É esta atracção sobre os seus habitantes que faz dos portuenses uns cidadãos únicos, devotados à sua cidade e às suas instituições seculares, com uma vontade colectiva que permite acreditar no futuro.
Head image: O Porto e o Douro.