Viana do Castelo: The nautical city of the Atlantic

9 Luglio, 2022

Viana do Castelo: a cidade náutica do Atlântico

Sabemos que dois terços do planeta Terra são ocupados pelos Oceanos. Logo, é premente ocuparmo-nos deles da forma mais sustentável possível. E os “mares” foram desde sempre a seiva da Europa. Os europeus desde há muito tempo tiveram propensão para se libertarem do mare incognitum. Essa ousadia trouxe retorno económico, cultural e científico notáveis para a Humanidade.

Os espaços marítimos e o litoral europeu são essenciais para o bem-estar e prosperidade, ligam continentes através de rotas comerciais, regulam o clima, são fonte de alimento, de energia, e de inúmeros recursos (muitos ainda desconhecidos) e são também locais privilegiados de residência e lazer para os cidadãos.

A nossa longa histórica marítima, a língua e cultura portuguesa, e o facto de existir uma Estratégia Nacional para o Mar e uma Estratégia Marítima para a região do Atlântico, em consonância com a Política Marítima Integrada Europeia, são fatores-chave para Portugal concretizar um dos seus maiores desígnios para o século XXI – o Mar. Importa referir também o iminente alargamento da Zona Económica Exclusiva (equivalente a 43 vezes a área de Portugal Continental), que, caso seja aceite, seguramente dará uma nova janela de oportunidade para estarmos no centro do mundo.

Para que Portugal cumpra o Mar como desígnio nacional, é necessário iniciarmos um novo ciclo que lance, em definitivo, os portugueses de volta ao mar. Considerando o peso simbólico do “mar português” e as potencialidades económicas da ZEE do país, a cultura do mar deve ser encarada como expressão de soberania e também de identidade.

O Mar cumpre-se com cultura e identidade. É absolutamente necessário fazê-lo cumprir num horizonte alargado (mínimo uma geração). O Mar não pode ser imposto, deve sim estar assente numa estratégia bottom-up que mobilize a sociedade civil, em particular os jovens, para a salvaguarda dos interesses do país.

Exige-se uma nova vaga de fundo para o desenvolvimento da nossa cultura marítima, como já tem sucedido em outros Estados-membros, através de um processo de enculturação. A educação tem um papel determinante para o sucesso deste objetivo. Os planos curriculares das escolas e das universidades são o ponto de partida deste novo paradigma, despertando o interesse nas camadas mais jovens e influenciando-as para o gosto da nossa herança marítima, permitindo vivenciar atividades de mar, de modo a serem os jovens, no futuro, a capitalizarem as potencialidades do mar.

A fileira náutica compreende as atividades náuticas (lazer, desportivas, escolares e turísticas), a indústria/comércio/serviços e as marinas/portos de recreio. Esta fileira, numa abordagem holística, constitui, indubitavelmente, um importante ativo económico gerador de emprego, riqueza e bem-estar para as populações.

As atividades náuticas são orientadas, desde há muito, para a descoberta do meio ambiente marinho, valorização do património e proteção do ambiente e ainda para a promoção de profissões marítimas.

O projeto municipal do “Centro de Mar” que contempla o Navio Gil Eannes, os Centros Náuticos (Canoagem, Remo e Vela) e o Centro de Alto Rendimento de Surf formam a grande vitrine do oceano e contribuí decisivamente para a mobilização da população para o mar.

O Centro de Alto Rendimento de Surf. (© Surf Clube de Viana).

De destacar que, desde 2013, a cidade de Viana do Castelo lançou um programa denominado “Náutica nas Escolas” que permite, anualmente, de forma curricular, levar mais de 2.000 alunos a praticarem náutica de forma democrática e gratuita. Este programa é uma referência nacional que resulta da cooperação estratégica entre o município, os agrupamentos escolares e os clubes náuticos locais. Este programa incluí ainda um programa específico “Náutica para Todos”, que promove a inclusão de alunos com necessidades especiais e com deficiência física e mental.

Este programa permitiu a criação de postos de trabalho a tempo inteiro, a profissionalização dos clubes, a captação e desenvolvimento de atletas e, consequente, projeção da cidade de Viana como destino náutico europeu de excelência.

Estes centros náuticos estão apetrechados com os melhores recursos para o treino de mar em terra, são local de treino de vários atletas dos quatro clubes náuticos vianenses (+ 150 títulos nacionais) e servem ainda de apoio logístico à organização de eventos nacionais e internacionais com o apoio do Município de Viana do Castelo.

Vejamos o exemplo dos Jogos Náuticos Atlânticos (JNA), criados na Bretanha em 1995, sob o lema o “Oceano nos une”. Os JNA são um evento desportivo de alto nível competitivo que se realiza, anual e rotativamente, pelas diferentes regiões do Atlântico, promovendo a fileira náutica, popularizando os desportos náuticos e incentivando intercâmbios de experiências. Participam neste quadro festivo e de amizade cerca de 500 atletas, de cinco modalidades náuticas (Canoagem, Remo, Subaquáticas, Surf e Vela), sempre acompanhados de grupos, culturais e musicais representativos das regiões participantes, contribuindo desta forma para uma Europa marítima mais unida e coesa. Pela terceira vez na história, a cidade de Viana do Castelo acolherá, de 11 a 15 julho, a XXIII edição dos Jogos Náuticos de Viana do Castelo.

Atividades relacionadas com a prática do Surf en Viana do Castelo. (© Surf Clube de Viana).

Atualmente, Viana do Castelo é a base de treino para vários atletas e equipas de alto rendimento que escolhem Viana do Castelo para a preparação de campeonatos internacionais, incluído a preparação de Jogos Olímpicos. A captação de talentos (atletas e treinadores de elite) é importante não só para o desenvolvimento de modalidades, equipamentos e tecnologia desportiva como para a economia local, através de estadias mais prolongadas e do consumo de bens de serviços.

O Centro de Mar tem enorme potencial de desenvolvimento turístico que importa ser explorado no futuro. A diversificação dos produtos e serviços turísticos contribuem para melhorar a competitividade dos destinos costeiros, especialmente quando aos turistas é oferecida a oportunidade de desfrutarem de várias atrações turísticas ligadas ao mar. Esta diversificação apresenta inúmeras vantagens: uma menor pressão nas praias; fontes alternativas de rendimento para os antigos pescadores das comunidades costeiras; e a criação de novas atividades económicas destinadas a apoiar a preservação e o desenvolvimento do património local.

No caso de Viana do Castelo, além de possuir uma oferta turística diversificada, deve tirar partido da sua localização geográfica, de cidade costeira por excelência com forte tradição marítima e do seu clima atlântico e ameno. Estas mais-valias intrínsecas permitem o prolongamento da estação turística gerando, assim, maior crescimento económico e aumento do número de empregos a tempo inteiro. Desta forma, diluindo os picos de concentração turística, reduz o impacto ambiental das atividades turísticas e contribui para melhorar a qualidade de vida na cidade de Viana do Castelo.


IMAGEM INICIAL | Viana do Castelo e a frente d’água. (© Surf Clube de Viana).



Article reference for citation:

ZAMITH, João. “Viana do Castelo: a cidade náutica do Atlântico”. PORTUS | Port-city relationship and Urban Waterfront Redevelopment, 43 (July 2022). RETE Publisher, Venice. ISSN 2282-5789.
URL: https://portusonline.org/viana-do-castelo-the-nautical-city-of-the-atlantic/

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