A cidade do Porto tem provavelmente como principais expoentes da sua produção cultural dois autores, cujas área de criação são também aquelas em que Portugal mais se distingue na cultura mundial: falo da arquitectura contemporânea e da poesia.
Na primeira, Álvaro Siza, nascido em Matosinhos, junto ao porto de Leixões, irrompe de forma absoluta. Não só é hoje um dos principais arquitectos mundiais, no pódio com Ghery, Ando, Piano, Foster e poucos mais, mas é também um arquitecto “do” Porto e de Portugal. Siza dá visibilidade a uma geração portuguesa de grandes arquitectos da segunda metade do século XX, que aliás fez Escola (o que não é tão comum no meu país) e deu origem a uma nova geração de arquitectos de grande qualidade e originalidade. De certa forma, o Porto foi central neste processo. A sua Faculdade de Arquitetura, por si só e como edifício um projecto emblemático e programático de Siza, é hoje uma das mais reconhecidas no mundo, procurada por estudantes de arquitectura de todos os continentes. É a única no mundo que produziu dois prémios Pritzker. O próprio Siza, em 92, e Eduardo Souto Moura em 2011. Com o edifício da Casa da Música de Rem Koolhaas, a cidade do Porto passou a contar com três Pritzkers, o que é notável numa segunda cidade do país, com 250 mil habitantes.
Eugénio de Andrade. Portrait. (Editora Modo de Ler)
Na poesia, falo de Eugénio de Andrade, um autor mágico, talvez o grande escritor do século, depois de Pessoa. Eugénio, que nos deixou já no séc. XXI, não nasceu no Porto. Mas como poucos viveu, leu, escreveu, percebeu esta cidade. O seu “Daqui Houve Nome Portugal”, antologia de textos sobre o Porto, publicado nos anos setenta, é hoje dos mais belos monumentos da cidade. Traduzido em dezenas de línguas, Eugénio tem uma vasta obra poética e em prosa, e é responsável por extraordinárias traduções de poetas como Safo, Lorca, Machado e outros.
Eugénio inscreve-se numa geração de extraordinários poetas, que prolongam uma tradição poética ao longo dos séculos, com poucos períodos menos luminosos, desde os trovadores, passando por Camões, Pessanha, Pessoa e muitos os outros.
De referir dois autores que tiveram na cidade muita da sua alma: Pedro Homem de Melo e Manuel António Pina, recentemente partido.
Na prosa, é incontornável o nome duma romancista maior, Agustina Bessa Luis, também uma grande pensadora e porque não uma grande filósofa.
Ângelo de Sousa, também ele recentemente falecido, é o grande pintor do Porto e seguramente um dos grandes do país. Artista completo, integro, faz igualmente parte duma geração de grandes artistas, como Álvaro Lapa, Francisco Laranjo, Jorge Pinheiro, em certa medida observados e acarinhados pelo grande Júlio Rezende.
As Artes Plásticas e a criação Contemporânea têm no porto uma notável Instituição, que é o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, construído num grande jardim e extraordinário, cujo edifício, projeto de Siza, é já por si a maior obra-prima do complexo. Visite e revisite. Absolutamente obrigatório.
Casa da Música (© João Messias).
A Casa da Música, um fantástico edifício de Koolhas, é hoje a grande instituição musical do país. Com um grande auditório de 1200 lugares, esta sala adoptou o nome dumas grandes violoncelistas do século XX no mundo, a Guilhermina Suggia.
A Casa, gerida por uma Fundação, integra quatro agrupamentos residentes, um Coro, uma Orquestra Barroca, um ensemble contemporâneo, o Remix, e uma grande Orquestra sinfónica, com cerca de 95 músicos, que é um dos orgulhos da cidade.
No espaço que me sobra, um autentico “monstro” sou obrigado a referir: o grande Manoel de Oliveira, o maior realizador português, autor premiadíssimo no mundo, director de dezenas de grandes e longos filmes, premiado pela presença de grandes autores. Oliveira, para além de ser um monumento do cinema europeu, é um grande intérprete do Porto e do país.
Head image: Serralves Museum of Comtemporary Art.