Visión estratégica del futuro de Porto

16 Aprile, 2014

Apesar de ser uma cidade de pequena dimensão, o Porto tem um carácter inconfundível. Essa identidade única e complexa não decorre apenas da sua história. A marca de água do Porto resulta das suas fortes tradições e de ser, também, a mais meridional das cidades atlânticas do continente europeu, de uma cadeia que se estende, a Norte, até às cidades hanseáticas.

Este seu carácter reside, também, e muito, nas suas gentes: na sua forma de estar, no ardor pela participação activa na coisa pública, na sua franqueza, no seu empreendedorismo, no seu apego a uma cultura que combina aspectos tradicionais com o cosmopolitismo típico de uma cidade burguesa e portuária. Razão pela qual, em tempos de cinzas, o Porto faz sempre das tripas coração, como aqui se diz, e encontra, na sua sociedade civil, o ímpeto e o ânimo para arrostar com todas as dificuldades e para fazer fortes todas as suas fraquezas.

É por esse motivo que o Porto conseguiu resistir à crise. Mais do que isso, soube encontrar novos caminhos. Hoje, o Porto vive um tempo de esperança porque a cidade é olhada, fora das nossas fronteiras, com um interesse crescente, sendo apontada como o melhor destino turístico europeu e, também, como uma das cidades mais atractivas da Europa do Sul para o investimento estrangeiro, de acordo com um estudo do Financial Times.

Este novo posicionamento do Porto, que foi a capital portuguesa da indústria e que, a exemplo de tantas outras cidades com essas raízes, sofreu as consequências da desindustrializaçao europeia, não é obra do acaso. No plano turístico, é verdade que o Porto combina muitos ingredientes de sucesso, como é o caso da sua localização única, encaixado entre o mar e o rio, da sua arquitectura notável, do seu centro histórico que resistiu ao camartelo, do seu aeroporto com excelentes ligações continentais e do seu clima ameno.

Mas, a verdade é que, nos últimos anos, a cidade foi descoberta pelos turistas e adaptou-se às suas necessidades sem, contudo, perder a sua identidade. O turismo, que tem crescido a um ritmo muito significativo, continuará a ser uma das principais apostas da cidade, o que implica que a versatilidade da oferta seja cada vez maior.

Quanto à sua atractibilidade, do ponto de vista dos investidores, esta resulta não apenas da qualidade de vida que a cidade oferece mas também dos seus centros de excelência na área do conhecimento, em particular do seu ensino superior.

A academia portuense contribui, através da formação e da especialização em novas competências, da pesquisa dos seus institutos em vários domínios da investigação e da sua crescente relação com o sector privado, nomeadamente em clusters tradicionais que se adequaram às novas exigências do mercado global, para a afirmação da cidade e da sua marca.

No plano da coesão social, o Porto tem, também, uma notável rede de instituições de solidariedade que, devidamente articuladas com o empreendedorismo social, contribuem de forma activa para uma cidadania inclusiva, que é condição essencial de qualquer sociedade avançada.

E, para além disso, o Porto mantém, intacta, a sua apetência pela cultura, um factor diferenciador entre as cidades europeias. Nos anos vindouros, é essencial desenvolver estes atributos de forma articulada, combinando a coesão social, a economia e a cultura como factores de desenvolvimento.

Em suma, o Porto aposta, hoje, num novo modelo desenvolvimento que, a ter sucesso, o transformará num ambiente fértil ao investimento, abrindo as suas portas às novas tendências sem perder de vista o seu carácter, não esquecendo que, prioritariamente, esse progresso deve concorrer para que a cidade seja mais confortável e mais interessante para os seus cidadãos.

No essencial, o que distingue o Porto como cidade de todas as outras acabam por ser sinais e nomes, subtilezas e memórias, realidades visíveis e invisíveis, para usar a sistematização de Italo Calvino.

Nesta Europa que queremos construir, contra os ventos cruzados do fatalismo e do cepticismo, é esse, sem dúvida, o grande desafio que se coloca às cidades. Cidades que, não sendo estados como as cidades hanseáticas de outrora, necessitam, ainda assim, de um forte sentimento de pertença e de um envolvimento dos seus cidadãos na definição das suas prioridades. Ora, esse desafio só poderá ser correspondido se os cidadãos se envolverem no processo de mutação do seu habitat e não se sentirem excluídos ou marginalizados pelo progresso do seu território. É esse a grande empreitada que se coloca hoje às cidades. Uma empreitada em que o Porto está, seguramente, na vanguarda.


Head image:  A cidade do Porto e o rio Douro.

 


Article reference for citation:
Moreira Rui, “Visión estratégica del futuro de Porto”, PORTUS: the online magazine of RETE, n.27, May 2014, Year XIV, Venice, RETE Publisher, ISSN 2282-5789 URL: https://www.portusonline.org/vision-estrategica-del-futuro-de-porto/

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